Depois de 23 anos Senado aprova projeto com a mais profunda mudança na Lei de Licitações

O plenário do Senado aprovou no dia 13.12.2016 projeto de lei criando uma nova regulamentação para licitações e contratos da administração pública. O texto agora segue para aprovação da Câmara.

A proposta aprovada eleva a pena para fraudes em licitações para até oito anos de prisão, o dobro do máximo previsto hoje. Mas restringe a fiscalização do TCU (Tribunal de Contas da União), fazendo com que o órgão tenha que comprovar tecnicamente a vantagem de parar uma obra. Além disso, só poderá paralisar uma concorrência por, no máximo, 30 dias.

O prazo para parar uma concorrência foi uma das emendas aprovadas no plenário do Senado nesta terça. Outra emenda aprovada vai permitir que o governo mude a fila de pagamento dos contratos em casos de emergência, o que hoje é proibido.

Se aprovada, a nova lei introduzirá novidades, como o “diálogo competitivo”, em que os servidores poderão negociar diretamente com a empresa os termos de um contrato, e a contratação de um seguro obrigatório de até 30% do valor da obra, para garantir sua finalização caso a empresa não termine a construção.

Nova Lei de Licitações, o que pode mudar?

Projeto Completo

– O projeto para obra deve ter elementos suficientes para a definição de preços, entre outros. Não se poderá mais começar a obra sem o projeto executivo (superior ao completo)

Como era: o conceito era de projeto básico, com baixa especificação, o que permitia concorrência e início de obras sem informações suficientes, gerando problemas como aumento de preço ou obras mal executadas

Matriz de Risco

– Um documento terá que ser anexado ao contrato para definir de forma clara se o contratado ou o poder público serão os responsáveis por determinados riscos, como desapropriação, por exemplo

Como era: não havia obrigação desse documento e, em geral, os contratos não eram claros sobre isso

Contratação Integrada

– Uma mesma empresa poderá realizar o projeto e a obra, mas apenas para obras maiores que R$ 100 milhões

Como era: Introduzido no RDC em 2011, a contratação integrada estava permitida para praticamente todas as obras e agora ficará restrito às grandes

Diálogo Competitivo

– Os servidores públicos vão poder pedir, antes da apresentação das propostas, ajustes dos interessados para chegar a uma melhor proposta de preço ou de solução técnica para um projeto

Como era: não existia essa possibilidade

Contrato de eficiência

– Os contratos poderão conter item em que a administração paga um prêmio pela eficiência do contratado; se ele terminar uma obra antes do prazo, por exemplo, pode receber um bônus

Como era: não havia previsão legal para isso

PMI

– O governo poderá permitir que empresas façam projetos para obras ou concorrências e que os vencedores da disputa paguem pelo projeto após a disputa. A própria empresa poderá participar da disputa

Como era: essa possibilidade já é permitida, mas em geral a empresa que fez o projeto não pode participar da disputa

Orçamento

-Os órgãos públicos vão poder fazer seus orçamentos pelo preço global da obra, sem necessariamente ter que especificar valores item a item

Como era: Em geral, as obras tinham que ser cotadas item a item, dificultando a realização do projeto, mas facilitando depois a fiscalização

Critérios de Seleção

– O poder público não vai poder fazer exigências exageradas de atestados, experiência ou comprovações de saúde financeira das empresas para entrar na disputa

Como era: não havia na lei determinações específicas e cada gestor agia de forma diferente

Exequibilidade

– Os órgãos públicos não poderão aceitar proposta menores que 80% do seu orçamento e as propostas que tiverem valor entre mais de 80% e 85% terão que fazer um seguro adicional para garantir sua execução

Como era: não havia determinação específica na lei sobre valores, mas alguns órgãos não permitiam valores de proposta muito baixos

Seguro Garantia

– As obras de grande vulto vão ter que contratar um seguro equivalente a 30% do valor do contrato (as de menor, 5% a 20%). Se o contratado não concluir a obra, a seguradora terá que pagar o seguro ou concluir a obra

Como era: os seguros eram limitados a 5% e a seguradora não assinava o contrato junto com o contratado, o que será obrigatório agora

Paralisação de Obras

– Para paralisar obra, mesmo com indícios de irregularidades graves, gestores e órgãos de controle terão que apresentar uma dezena de comprovações de eficiência da medida, o que praticamente inviabilizam a paralisação

Como era: obras poderiam ser paralisadas por determinação dos órgãos de controle apenas com indícios de irregularidades, obedecendo a critérios como percentual executado, gravidade do problema entre outros

Hipóteses de dispensa

-Obras e serviços de engenharia de R$ 60 mil e compras de até R$ 15 mil não precisam mais fazer disputa, além de algumas outra hipóteses como emergência, guerra e algumas compras das Forças Armadas

Como era: Os limites anteriores eram R$ 15 mil e R$ 8 mil e também se previa dispensa em quase todos os mesmos casos

Contrato de Serviço

– Os contratos de serviço poderão ser feitos por 2 anos e renovados por cinco vezes, resultando em 10 anos

Como era: contratos de 1 ano, renovados 5 vezes (5 anos)

Terceirização

– Não será permitida a contratação de parentes de servidores públicos como trabalhadores terceirizados em seus próprios órgãos

Como era: não havia qualquer vedação na lei

Shows

-Os shows de artistas consagrados poderão ser contratados sem concorrência, mas os valores pagos pelo cachê devem ser especificados, assim como o custo por transporte, da banda, entre outros

Como era: os artistas eram contratados sem concorrência, mas não havia exigência especificação para os outros itens

Registro de Preços

– Os órgãos públicos poderão fazer licitações maiores que suas necessidades e uma parte poderá ser paga por outros órgãos públicos

Como era: Não havia lei específica para os limites dessa contratação e esses limites eram dados por decisões de órgão de controle como TCU ou CGU

Pré-Qualificação

– Os órgãos públicos poderão fazer pré-qualificação de fornecedores, que deverá se manter aberta permanentemente, para permitir que só os qualificados disputem

Como era: não havia essa hipótese na lei

Planejamento de Compras

– Os órgãos públicos devem fazer um planejamento de longo prazo de suas compras e ele deve ser divulgado publicamente

Como era: não havia previsão na lei

Crime

– O crime de fraude a licitação ou nos contratos terá pena de reclusão de 4 a 8 anos

Como era: O crime de fraude nas concorrências ou contratos com as obras públicas eram punidos com detenção de 2 a 4 anos, podendo ser enquadrado nas hipóteses de menor potencial ofensivo

Inabilitação

– As empresas que fraudarem a concorrência poderão sofrer 3 punições: multa, impedimento de licitar por até 3 anos e declaração de inidoneidade de 3 anos até 6 anos. A empresa poderá ter a punição retirada se reparar o dano

Como era: não havia a punição intermediária (impedimento de licitar) e a pena para inidoneidade era de 1 a 5 anos e não havia hipótese de retirada da pena

Arbitragem

– As divergências entre o contratado e a administração pública poderão ser resolvidas por arbitragem (uma espécie de Justiça privada)

Como era: somente a Justiça Pública poderia resolver as divergências

Atraso em pagamento

– As empresas podem abandonar os contratos após 45 dias de atraso nos pagamentos

Como era: o prazo era de 90 dias

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/12/1841209-senado-aprova-nova-lei-de-licitacoes-com-restricoes-ao-tcu.shtml