
O Procurador-Geral do Ministério Público de Contas do Paraná (MPC-PR), Gabriel Guy Léger, participou na manhã do dia 5 de setembro da mediação da palestra “O poder da palavra pública, sua interface com a neurociência e as novas possibilidades trazidas pela inteligência artificial”, ministrada pela neurocientista Jeanine Benkenstein durante o XVI Congresso Nacional do Ministério Público de Contas, realizado em Belo Horizonte (MG).
Com o tema “Consensualismo e Inteligência Artificial no Controle Externo”, o Congresso promovido pela Associação Nacional do Ministério Público de Contas (Ampcon), com o apoio do Ministério Público de Contas do Estado de Minas Gerais (MPC-MG), do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG), marcou os 40 anos da associação.

Em breves palavras na abertura palestra, o Procurador-Geral Gabriel Guy Léger reforçou a importância de trazer ao debate temas inovadores, que dialoguem com a atuação estratégica do Controle Externo. Para ele, aproximar ciência, comunicação e tecnologia do trabalho dos Ministérios Públicos de Contas é fundamental para garantir a modernização e a efetividade das instituições.
Neurociência aplicada ao Controle Externo

Mineira de nascimento e radicada no Rio Grande do Sul, Jeanine abriu a fala conectando ciência e experiência de vida. Segundo ela, 95% das decisões humanas não são racionais, mas fruto de emoções, hábitos e intuições. Pesquisas recentes indicam que cerca de 90% da nossa personalidade é moldada pelo ambiente, o que explica a força de condicionamentos e crenças herdadas. “Se você não substitui o ‘software’, as memórias de longo prazo é que vão vencer”, afirmou.
Entre os conceitos apresentados, a palestrante falou sobre as “hidrosferas de identidade”, camadas de crenças e experiências que contaminam a forma como interpretamos a realidade e os outros. Como prática de transformação, ela sugeriu a “higienização dessas hidrosferas”, que consiste em trazer-se ao presente e reinterpretar significados herdados. Outro ponto abordado foram os chamados “vírus mentais”, expressões e narrativas populares que se instalam no subconsciente, como por exemplo “em time que está ganhando não se mexe” ou “dedo podre”, que se instalam no subconsciente e passam a guiar decisões de forma automática.

No âmbito do Controle Externo, a neurocientista foi enfática sobre o poder da palavra pública: “A palavra dos senhores cria a realidade administrativa”. Segundo ela, a forma como procuradores e auditores enquadram relatórios, pareceres ou recomendações influencia diretamente a adesão social e institucional.

Nessa perspectiva, Jeanine debateu os desafios de equilibrar governança técnica e empatia humana no exercício da função pública e explicou o conceito de framing (enquadramento), que seria a moldura mental com que cada pessoa recebe uma mensagem. Ao discutir relatórios, irregularidades ou políticas sensíveis (como saúde), quem escuta já chega com um enquadramento próprio, muitas vezes associado a vivências inconscientes. “Por isso, fiscalizar bem é fiscalizar com técnica e criar adesão, pois sem comunicação, perde-se efetividade”, ressaltou.
No encerramento, ela propôs a convergência entre evidência, neurociência e inteligência artificial para transformar o controle externo:
“Que cada parecer seja um convite à integridade. Que cada alerta do sistema seja uma mão estendida, e não uma condenação. E cada decisão, um espelho da sociedade que os senhores escolheram proteger. Vamos juntos, com ciência, na mente e no coração, cuidar do que é de todos.”

Ao final, o Conselheiro Substituto (Auditor) do Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCE-MG), Licurgo Mourão, realizou a entrega dos certificados à palestrante e ao mediador, Gabriel Guy Léger, em reconhecimento à contribuição para o debate.